Aceite minha clemência


     Há dias, ou melhor, há meses em que tenho pensando e repensado nas diversas formas de escrever sobre isso. Não é algo fácil, ainda mais para uma pessoa orgulhosa como eu, sempre tão ignorante quanto ao que acontecia à minha volta, preocupada apenas com meus problemas, acabei tornando-os centro daquilo que eu chamava de universo.

     Mas quando menos imaginava eu estava tão cega e tão atordoada com minhas próprias dores, que acabei me esquecendo das dores daquela que eu mais amava. Você sofreu, você chorou, e eu nunca estive ao seu lado para socorrer-te e dizer-lhe que tudo ficaria bem. Você brigou, estressou e encarregou-se de fazer da minha vida um inferno, mas eu nunca estive lá para me desculpar. Sofri calada, minha dor tornou-se sua dor. Meu sofrimento era de longe comparado ao seu.  E eu nunca me preocupei. Continuava ocupada com a minha condolência. Que tipo de dor é essa que nos torna seres humanos tão frios e calculistas a ponto de desejar não se importar?

     Agora que as coisas se complicaram, gastei as forças acumuladas para abrir mão da minha dor, sentindo sua dor. Uma transição de sentimentos que nem a mais avançada ciência e nem o mais religioso salmo poderia expressar. Eu preciso de você... Apesar de parecer tão simples, sei que você precisa de mim também, mas como pode precisar de alguém que não tem nada a lhe oferecer se não rios de decepções ou desavenças?

     Já é tarde, durmo todas as noites com o peso na consciência de que poderia ser alguém melhor, que poderia ser uma filha e uma amiga paciente e dedicada, mas o medo de fracassar e o orgulho de me submeter fizeram de mim esse ser humano desprezível e pessimista.  Agora sou dependente do tempo, sigo a linha tênue de acordo com o que o vento levar e cabe somente a ele minha última chance.

Desculpe-me por fracassar, mais uma vez.  
Eu te amo, mãe. 

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