Sentimento covarde

Foi numa tarde de outono
o nono dia de um mês inteiro
que sorrateiro e perdido no tempo
acordou, meu coração
à margem do descontentamento 
cuja emoção, por um momento
não passou de um ditongo crescente
como a ferida atiçada em meu peito
dor de combatente.



Pesquei nas entrelinhas
a linha enroscada do nosso amor
perdida no arrebol da esperança
cujo mar, desesperado, suplicava à Iemanjá
trás de volta a indiferença 
lucidez da alma afogada
eu não sei nadar.



O mês de março esboçava
no céu azul tons de cinza claro
e lá estava eu, no espaço
a um passo da margem árida
desgastada pelo nosso ardor 
flor da noite, desfolhada
tremendo de frio, minha dor amargurada.



Escondida em sua sombra, habitava
parte de mim que eu nunca conheci
olhos teus
sonhos meus
e um dia quem ei de ser.
No mais alto pódio divino, sois teu céu
que vê no véu, caído e silenciado
um paraíso poente
e no mais prelúdio da mente
hesitou, covarde.
É esse o sentimento que arde.

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