Freedom
Nós, seres humanos, não somos exatamente
animais tão racionais como pensamos. Estamos sempre seguindo nossos instintos e
nos apropriando de coisas, momentos, intuições e pessoas. É como se nossa
existência fosse completamente invalidada se não tivermos possessões.
Julgamo-nos como racionais pela nossa capacidade intelectual elevada, que nos
faz tomar decisões tidas como “inteligentes”. Por fim tomamos deliberações não
com base no que o nosso intelecto avalia, seguindo os motivos circunstancias
para tal evento, mas sim porque sentimos a extrema necessidade de que tudo
esteja, a todo o momento, sob nosso controle. Independente do que é ou não
correto, se a verdade não estiver sob nosso domínio, ela não significa nada.
É assim que tratamos as pessoas, como
embalagens prontas para serem entregues. Se elas vêm com defeitos, mesmo que
imperceptíveis, nós trocamos, porque na verdade não é o tamanho ou a gravidade
do defeito que nos incomoda, e sim o fato de que ele existe.
Somos incapazes de lidar com as pessoas e
seus defeitos, porque muitas vezes, a possibilidade de que nossos defeitos não
sejam tão incômodos a elas como os delas são a nós, faz com que estejamos em
constante desapontamento com o mundo e principalmente com nós mesmos.
Nós nos cegamos tanto com a necessidade de
que tudo aconteça como planejado, sem restrições, defeitos ou imprevistos, que
não damos espaço ao acaso. E o que seria o acaso se não parte do nosso
planejamento? Uma consequência, talvez? O acaso é nada mais nada menos do que
partes de nós mesmos que foram despertadas ao longo de nossa evolução
física/mental. Ignorar que sua existência é crucial é ignorar que nossos
planejamentos tiveram algum resultado.
Avaliar uma pessoa com base nos seus defeitos
é dar liberdade para que sejamos, também, crucificados por ser quem somos. Não
se pode tirar do outro o que não podemos tirar de nós mesmos. Não se pode supor
a verdade, se não buscamo-la com o objetivo de ouvir uma mentira. E assim, não
se pode controlar o que foi feito para ser livre.